(imagem do google)
As janelas de nossa casa no sítio são
molduras para impressionantes obras de arte. Natureza viva. De frente, a Serra
da Moeda, com suas porções de mata nativa ainda preservada, onde se escondem
bromélias e orquídeas únicas na flora do estado de Minas Gerais. Na parte de trás,
o que chamamos, carinhosa e orgulhosamente, de “nossa mínima amostra de espécies
remanescentes de Mata Atlântica”, embora estejamos longe do mar. Intocada. Raros
espécimes de pau-ferro, ipês, jacarandás, jequitibás, visgos, pinheiros e
touceiras de bambu, dentre outras. Por todo lado onde o olhar nos leva, verde,
muito verde.
No entanto, nos últimos anos vêm crescendo
as áreas desmatadas para fazer pasto. Afinal, nós, humanos, nos reproduzimos
exponencialmente e haja gado para atender nossa demanda por carne! Ainda assim,
ilhas de verdor ainda nos deleitam os olhos. Ou deleitavam.
Este ano vimos provando os efeitos nefastos
de um estio prolongado. Nos grandes centros urbanos, a percepção ocorre quando
começam a falar de racionamento e falta de água. E são muitos os alertas, na
maioria das vezes, porém, sonegados pela administração pública, pensando nos
dividendos de um ano eleitoral. A população, menos informada e inconsciente, ou
não sabe mesmo, ou finge não saber do momento crítico em que nos encontramos.
Continua a usar a água como se fosse um recurso inesgotável. Carros e calçadas são
lavados e varridos com mangueiras sem gatilho, deixando perder-se líquido
precioso que nos fará falta adiante, para as necessidades mais básicas. E este é
apenas um exemplo.
Nós que, de vez em quando, nos aproximamos um
pouco mais da natureza e podemos acompanhar os seus ciclos, andamos preocupados
com o que temos visto. Há cerca de dez anos, já tivemos períodos longos de
chuva abundante, quando podíamos testemunhar a renovação da vida. Penso que, não
por acaso, verde é a cor da esperança. Entretanto, a cada ano que passa, vimos
constatando uma redução drástica no período e no volume das precipitações e o
esforço hercúleo da Mãe Gaia para fazer frente à adversidade. A distribuição das
chuvas vem se dando de modo desequilibrado: em algumas regiões, água destruindo
tudo; em outras, seca inclemente.
Estamos no final do mês de agosto de 2014 e
descer a serra no último dia 27 foi uma experiência desoladora. Ver de longe,
nas imagens da TV, não é o mesmo que enxergar de perto o que o estio e a nossa
imprevidência vêm fazendo. Inúmeros focos de incêndio, a maioria irresponsáveis
e criminosos, espalhando-se e transformando hectares e mais hectares de mata em
amontoados de cinzas. Uma cena de fazer chorar. Em um local onde, quando chove,
costumam brotar tantas nascentes de água... Todo ano, nesta época, pode-se ver
um foco ou outro de queimada criminosa, mas, desta vez, é estarrecedora a
dimensão do estrago. Áreas imensas da Serra do Rola Moça emendando-se com
outras tantas da Serra da Moeda, e um cheiro inequívoco de fumaça no ar. À
noite, o que se vê daquelas mesmas janelas é um colar de fogo ameaçando tudo,
de condomínios de luxo a pequenas propriedades rurais. Democraticamente. Além
dos mananciais de água, nossa fonte de vida.
Eu me pergunto: que será do lobo-guará, da
jaguatirica, dos saguis, dos esquilos e coelhos selvagens, da raposinha parda,
das saíras, dos tico-ticos, papa-capins, sabiás e sanhaços, trinca-ferros, beija-flores
e gaturamos, dos jacus, tucanos, e papagaios, das maritacas e gralhas, seriemas
e saracuras? E dos besouros, das abelhas, cigarras e borboletas, das cobras,
dos teiús e calangos, dos sapos e das pererecas e tantos outros residentes
destas matas reduzidas, destruídas pelo fogo? Uns poucos chegam até a nossa
porta, sem receio, porque lhes oferecemos alimentos e água, enquanto milhares
de outros são sacrificados no altar da insanidade geral. Quem se importa?
No céu, apenas o voo dos helicópteros da Polícia
Florestal e dos brigadistas voluntários brigando uma briga desigual...
Hora de acordar, tomar atitude e mudar. Ou será
que o nosso patrimônio natural se transformará exclusivamente em insumo?
Em tempo: no dia 28/08 caiu ligeira chuva à
noite, reduzindo o fogo e limpando a atmosfera. Aplaudimos de pé!
(Angela Cristina Fonseca, em 29 de agosto de
2014)
Aplaudo seu artigo, amiga. Um abração.
ResponderExcluirGrata, amiga Celeste! Seu cumprimento muito me honra. Bem haja, minha cara.
Excluir