domingo, 7 de dezembro de 2014

VIAGENS


          Terminais rodoviários no Brasil, de modo geral, rescendem a... pastel frito! E muitos hão de concordar comigo: nada como um bom pastel de rodoviária antes de viajar. Irresistível! Nessa hora, dane-se o colesterol alterado, a gordura saturada e outros pruridos de mesma ordem. A massa, bem sequinha, crocante, estala por entre os dentes e aí vem o melhor: um recheio bem temperado, agindo, primeiro, sobre as células do olfato para depois, lubricamente, seduzir nossas papilas gustativas irremediavelmente. Os olhos se fecham e um suspiro de puro gozo completa o prazer. 
          Tenho frequentado terminais rodoviários com certa frequência ultimamente e, para além da degustação dos pasteis, observo o movimento frenético de ônibus e gente que, provavelmente, não verei de novo, cada um com seu destino e sonho. Lembro-me sempre – e fico cantarolando! - da canção de Milton Nascimento, Encontros e Despedidas, a qual traduz tão poeticamente o ir e vir dos viajantes. 
          Este sábado, dia 29 de novembro de 2014, estava eu no terminal da cidade de Mariana, sozinha, como habitualmente, aguardando o primeiro ônibus da Viação Pássaro Verde que me levasse “voando” para Belo Horizonte, onde deixaria minha pesada bagagem de livros, almoçaria e de onde partiria novamente, desta vez para o sítio na Serra da Moeda, onde agora me encontro, apreciando o recorte das montanhas, o verde viçoso tomando tudo, depois de alguns dias de chuva, e escrevendo estas linhas.
          Tive companhia na primeira parte do trajeto: uma jovem estudante da UFOP, do curso de Pedagogia, e seu filho, autista, Miguel. Provavelmente, ela procurava alguém com quem conversar e achou em mim a pessoa certa, já que aprecio uma boa prosa, e, também, por termos algo em comum, que acabou sendo o tema principal de nossa conversa: a maternidade “especial”. Até Itabirito, onde ela foi passar o fim de semana com o atual namorado, falamos também de cursos, escolhas e formação profissional. Foi interessante, porque nem sempre encontramos gente cuja conversa renda e o tempo passou sem que ambas percebêssemos.
          O resto da viagem, depois que Viviane chegou a seu destino, foi um agradável recordar. Na noite anterior, havia participado do 3º. Encontro Anual dos Poetas Aldravianistas na cidade de Mariana. Noite perfeita. Uma sessão solene, com o lançamento d’O  Livro I das Aldravipeias, a primeira forma poética genuinamente brasileira, que nasceu ali, naquela cidade histórica que foi a primeira capital do estado de Minas Gerais e também  o berço de tantos expoentes da literatura e das artes brasileiras. Logo após, cada um dos autores presentes declamou algumas de suas aldravias, os autores das cinco aldravipeias que se destacaram foram laureados com  a comenda Cláudio Manoel da Costa, da SBPA e da ALACIB, novos membros da SBPA foram empossados e seguiu-se um jantar caprichado de congraçamento, tudo muito bem temperado com boa conversa, alegria e música de qualidade. Em um espaço pequeno e aconchegante, o restaurante Lua Cheia, coube o Brasil quase todo: Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e São Paulo – não tenho certeza se faltou ou sobrou algum estado...
          Sou poeta aldravianista, fiz parte dessa festa e vim embora feliz. Depois de tudo, digo com convicção: 2014 é um ano para ficar em algum cantinho especial da memória. A retomada de um sonho, o retorno da dedicação, novas amizades e portas se abrindo. Que venha 2015, estou pronta para embarque!


Em tempo: enquanto não chega, chupo jabuticabas e “viajo” contemplando o céu...
29/11/2014