Terminais rodoviários no Brasil, de
modo geral, rescendem a... pastel frito! E muitos hão de concordar comigo: nada
como um bom pastel de rodoviária antes de viajar. Irresistível! Nessa hora,
dane-se o colesterol alterado, a gordura saturada e outros pruridos de mesma
ordem. A massa, bem sequinha, crocante, estala por entre os dentes e aí vem o
melhor: um recheio bem temperado, agindo, primeiro, sobre as células do olfato para
depois, lubricamente, seduzir nossas papilas gustativas irremediavelmente. Os
olhos se fecham e um suspiro de puro gozo completa o prazer.
Tenho frequentado terminais
rodoviários com certa frequência ultimamente e, para além da degustação dos
pasteis, observo o movimento frenético de ônibus e gente que, provavelmente,
não verei de novo, cada um com seu destino e sonho. Lembro-me sempre – e fico
cantarolando! - da canção de Milton Nascimento, Encontros e Despedidas, a qual
traduz tão poeticamente o ir e vir dos viajantes.
Este sábado, dia 29 de novembro
de 2014, estava eu no terminal da cidade de Mariana, sozinha, como
habitualmente, aguardando o primeiro ônibus da Viação Pássaro Verde que me
levasse “voando” para Belo Horizonte, onde deixaria minha pesada bagagem de
livros, almoçaria e de onde partiria novamente, desta vez para o sítio na Serra
da Moeda, onde agora me encontro, apreciando o recorte das montanhas, o verde
viçoso tomando tudo, depois de alguns dias de chuva, e escrevendo estas linhas.
Tive companhia na primeira parte do
trajeto: uma jovem estudante da UFOP, do curso de Pedagogia, e seu filho,
autista, Miguel. Provavelmente, ela procurava alguém com quem conversar e achou
em mim a pessoa certa, já que aprecio uma boa prosa, e, também, por termos algo
em comum, que acabou sendo o tema principal de nossa conversa: a maternidade
“especial”. Até Itabirito, onde ela foi passar o fim de semana com o atual
namorado, falamos também de cursos, escolhas e formação profissional. Foi
interessante, porque nem sempre encontramos gente cuja conversa renda e o tempo
passou sem que ambas percebêssemos.
O resto da viagem, depois que Viviane
chegou a seu destino, foi um agradável recordar. Na noite anterior, havia
participado do 3º. Encontro Anual dos Poetas Aldravianistas na cidade de
Mariana. Noite perfeita. Uma sessão solene, com o lançamento d’O Livro I das Aldravipeias, a primeira forma
poética genuinamente brasileira, que nasceu ali, naquela cidade histórica que
foi a primeira capital do estado de Minas Gerais e também o berço de tantos expoentes da literatura e
das artes brasileiras. Logo após, cada um dos autores presentes declamou
algumas de suas aldravias, os autores das cinco aldravipeias que se destacaram
foram laureados com a comenda Cláudio
Manoel da Costa, da SBPA e da ALACIB, novos membros da SBPA foram empossados e
seguiu-se um jantar caprichado de congraçamento, tudo muito bem temperado com
boa conversa, alegria e música de qualidade. Em um espaço pequeno e
aconchegante, o restaurante Lua Cheia, coube o Brasil quase todo: Minas Gerais,
Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso
do Sul e São Paulo – não tenho certeza se faltou ou sobrou algum estado...
Sou poeta aldravianista, fiz parte
dessa festa e vim embora feliz. Depois de tudo, digo com convicção: 2014 é um
ano para ficar em algum cantinho especial da memória. A retomada de um sonho, o
retorno da dedicação, novas amizades e portas se abrindo. Que venha 2015, estou
pronta para embarque!
Em
tempo: enquanto não chega, chupo jabuticabas e “viajo” contemplando o céu...
29/11/2014
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