quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

ANO: NOVO?

(imagem do google)

2016. Ano de Oxalá, orixá maior das religiões de matriz africana, que corresponde a Jesus nas religiões cristãs. De acordo com o horóscopo chinês, este é também o ano do Macaco de Fogo. Conheço pouco sobre esses dois sistemas de crenças, mas é fato que previsões fazem parte dos ritos de passagem deste momento. Maya. Nossa humana ilusão de poder controlar o tempo.
Para a numerologia, considerada por seus estudiosos como ciência e arte, este é um ano 9. Pitágoras de Samos, filósofo e matemático grego, afirmava, por volta de 632 a.C., que “a evolução é a lei da vida; o número é a lei do universo; e a unidade é a lei de Deus”. Atribui-se a ele o fundamento desse sistema que procura desvendar o universo e seus mistérios. Antigo é, também, o conhecimento cabalístico sobre os números e seu significado na compreensão do mundo e do homem. Mas, o que quer dizer o 9?
Em essência, o número 9 – soma dos algarismos de 2016 – refere-se à COMPREENSÃO. Suas palavras-chave são: realização, universalidade, compaixão. Dentre suas características favoráveis temos amor universal, tolerância, fé. E dentre as desfavoráveis, sacrifício, fanatismo e decepção. É na tensão entre estas tendências opostas que o homem deverá encontrar o equilíbrio para compreender sua realidade, tendo como missão superar-se e aprender a ser compassivo.
De acordo com a cabala, o símbolo do 9 são dois triângulos entrelaçados, que representam Deus descendo à Terra e o Homem elevando-se ao Céu.  Astrologicamente, relaciona-se a Netuno e Marte, planetas da curiosidade e do entendimento. Os seres humanos estarão mais intuitivos para compreender que o universo opera em círculos e ciclos. Por esta razão, tomarão a consciência de que estão interligados a tudo que existe, sendo, portanto, criadores e atores da realidade, sua e dos outros. É um tempo de assumir responsabilidade pela consequência de suas ações sobre o coletivo. Aqueles que agirem em desacordo com estes princípios, vivenciarão o fim do seu ciclo de domínio, que corresponde ao 8 e se refere ao PODER.
Este será, também, um ano solar. A claridade porá tudo a mostra, nada ficará oculto. A turbulência daí decorrente deverá ser superada com paciência, porque o objetivo é que tudo se aclare para que seja feita a limpeza necessária.
O arcano 9 do tarô é o Ermitão, a figura de um velho apoiado em um bastão e carregando em uma das mãos, a direita, um lume aceso, imagem que representa o homem sábio. Simbolicamente, ele ilumina seus caminhos com a luz da inteligência e do discernimento. Usa o bastão para apoiar-se, o que simboliza a prudência. É o Mestre, o Iluminado, aquele que atingiu a perfeição, abandonando o apego obsessivo à matéria.
A despeito de todo o noticiário que prevê um período carregado de negatividade para 2016, é possível perceber alguma luz em meio à escuridão.  É uma crença consolidada pela história e pela experiência que todo período de iluminação é precedido por excessos e desânimo. Nossa passagem pelo planeta demonstra que o universo, realmente, opera em ciclos. Apesar de tudo, vale a pena ter esperança. E fé.    

sábado, 21 de novembro de 2015

LOUCURA CRÔNICA


Uma crônica é, a rigor, um modelo de texto no qual, geralmente, o autor expõe suas impressões, seu ponto de vista sobre determinado assunto, tendo, inclusive, liberdade para exprimir-se através de seu estilo próprio e, na maioria das vezes, de acordo com suas convicções.
Ontem, num insight - que é próximo de um orgasmo! - percebi que, neste momento, tenho mais perguntas sem resposta que, propriamente, opiniões. Encontro-me aturdida, como a maioria das pessoas que conheço. Por esse motivo, aqui estou para, terapeuticamente, partilhar tais questões com amigos e leitores. Não tenho a pretensão e, sequer, a ilusão de que abordarei todas as nossas angústias. Apenas acredito que haja mais gente preocupada com alguns dos meus porquês. Vamos a eles, pois.
Por que continuamos a "crescer e nos multiplicar" como se o planeta pudesse suportar um contingente cada vez maior de indivíduos? Por que estamos cada vez menos "humanos" e nos tornando meros apêndices das engenhocas que criamos? Por que, na maioria das vezes, somos solidários e compassivos apenas diante de catástrofes? Por que não somos inclusivos com idosos, pessoas com deficiência, homossexuais e tantos outros párias sociais? Por que ainda temos trabalho infantil e trabalho escravo no país? Por que ainda somos lenientes com pedofilia, estupro, prostituição e outros abusos e mazelas, desde que longe dos nossos "quintais"? Por que queremos todos os direitos para nós e os nossos mais próximos e exigimos os deveres apenas para os outros? Por que justificamos as nossas pequenas "contravenções" diárias a partir da impunidade alheia? Por que continuamos a votar se não acreditamos mais naqueles que se perpetuam no "poder"? E por que os empoderamos? Por que nossos políticos são chamados de "autoridades" quando, na realidade, são servidores públicos, remunerados com o dinheiro do contribuinte? Por que tantos privilégios, como aposentadorias especiais, cartões corporativos, imunidade parlamentar, isenção de impostos e sei lá que mais? Por que o dinheiro do contribuinte é chamado de "erário público"? Por que o crime não é punido? Por que quem tem renda sonega imposto e quem trabalha e recebe salário é taxado na fonte? Por que a remuneração do aposentado do setor privado é chamado de "benefício"? E por que é regulado pelos poderes executivo e legislativo, se é fruto do recolhimento compulsório de um percentual do salário mensal daquele que trabalha e de seu empregador? Por que a corrupção virou uma instituição nacional faz tempo? E por que nunca reagimos a ela?  Ou ainda, por que pactuamos com ela por mero comodismo? Por que nossas manifestações culturais legítimas vêm sendo dilapidadas pelo mau gosto subsidiado, de apelo fácil e descartável? Por que a grande imprensa é, invariavelmente, vassala do poder? E por que a imoralidade e a amoralidade vêm se tornando um novo paradigma nacional? Por que saúde, educação e segurança nunca foram prioridades na agenda da administração pública? Por que as Igrejas se tornaram superestruturas sociais milionárias, comprometidas com a alienação de seus seguidores, conhecidos como "fiéis"? Por que, a cada dia, cresce o número de jovens desamparados e desencantados, que aderem a grupos radicais em busca de um "ideal de vida", ainda que seja pelo caminho da violência? Por que as grandes potências não acabam, de fato, com o terror? E as nações emergentes com o crime organizado? Por que uma crise hídrica mundial? Por que a fome dizimando milhares? Por que a manutenção teimosa de modelos econômicos falidos e perversos? Para que essa célere caminhada em direção a uma hecatombe planetária? E por que nunca se esgotam os porquês?

Nota: todas as aspas não são meros e indigentes recursos literários, mas se justificam: a ironia é a minha tônica.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

MARIANA NO MAPA DO BRASIL

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(imagem do Google)

A cidade de Mariana, em Minas Gerais, é uma forte referência para mim. Não apenas por ter sido a primeira capital do estado onde nasci; tampouco por fazer parte do patrimônio barroco mineiro. Tenho, é claro, profunda admiração e um respeito quase devocional por tudo que a cidade representa para história do Brasil. Mariana é, ainda, conhecida pela forte religiosidade, tendo abrigado importantes conventos católicos e mantido as velhas tradições na celebração de datas significativas para a Igreja.
Além de tudo isso, Mariana é terra natal de artistas e escritores que emprestaram seu talento para o enriquecimento da cultura nacional. E é por essa razão que a cidade me conquistou e ocupa hoje um cantinho especial no meu coração. Estou ligada ao Movimento Aldravista, que teve início ali no ano 2000, refletindo a inquietação de escritores, poetas e artistas plásticos que buscavam uma nova estética na literatura e nas artes em geral. Sou membro de duas agremiações literárias na cidade e tenho amigos muito queridos que vivem lá.
A partir da tragédia ocorrida em distritos pertencentes ao município neste início de novembro, a qual vai revelando a face perversa do suposto desenvolvimento econômico, o estado de Minas Gerais vem ocupando espaço na mídia televisiva aberta, que, em geral, privilegia os fatos acontecidos no eixo Rio-São Paulo, como se o resto do país, de dimensões continentais, simplesmente não existisse ou tivessem qualquer importância. É, a um tempo, curioso e lamentável que apenas o ocorrer de uma catástrofe venha a nos colocar sob os holofotes dos noticiários. Parece que o brasileiro tem um gosto especial por acontecimentos funestos, o que se reflete nas estatísticas de audiência.  
Ainda impactados e perplexos, políticos, especialistas e imprensa especulam sobre o que pode ter levado as barragens onde se armazenavam rejeitos de mineração a se romper e liberar uma lama letal, que saiu soterrando tudo que havia pela frente e avança ainda, incontrolada, levando desespero e destruição por onde passa.
Como soe acontecer - um filme de terror que nos habituamos a ver, repetidamente -, a empresa responsável busca, insistentemente, justificativas para se eximir da responsabilidade, alegando que a contenção foi feita “rigorosamente” de acordo com normas técnicas, como se vistorias e manutenções regulares não fizessem parte da normatização. Até a hipótese de abalos sísmicos foi levantada, embora a priori não houvesse registros de tremores no local. Vale lembrar que se esse tipo de abalo é recorrente ali, as normas de construção dos diques deveriam, a rigor, levar esta contingência em consideração.
Em meio às perdas, ao sofrimento, à perplexidade e à incapacidade imediata de determinar a verdadeira causa da tragédia e avaliar todas as consequências dela decorrentes, alguns profetizam que levará de cinco a dez anos para que a região se recupere. Esta é a visão macro. Por trás dela, há muita dor individual que não será expurgada facilmente; há muita vida que terá de recomeçar do nada; há um ônus ambiental que dificilmente será recomposto. Na outra ponta, a solidariedade anônima; a fé daqueles que, a despeito dos prejuízos materiais, conseguem agradecer pelas vidas poupadas; a resistência aprendida em face da adversidade.
Há antecedentes suficientes, outros desastres semelhantes, mais do mesmo. Fica a pergunta: até quando?  

terça-feira, 6 de outubro de 2015

É INQUESTIONÁVEL: ELA CHEGOU!

                                    
       Enquanto a lua mingua no céu, na Terra um antigo relógio biológico põe-se a trabalhar em ritmo de equinócio. As águas chegam muito timidamente para essa época do ano nas Minas Gerais. No entanto, a primavera, sem se preocupar com as condições atmosféricas, está pronta para agir.

          Há uma névoa tornando a atmosfera mais densa e a chuva não deve tardar. Desço a serra da Moeda, em direção ao sítio. Felizmente, desta vez não tivemos queimadas, apesar de um incêndio próximo haver destruído grande parte da serra do Rola Moça. Sensação de dejà vu:   gente irresponsável e criminosa que ateia fogo às matas, dizimando ecossistemas inteiros. Uma lástima.     
     
          Porteira a dentro, já posso perceber a renovação. Sinto um sutil cheiro de verde no ar. Descarregado o carro e tudo acomodado, saímos andando para uma vistoria geral. Muito mato seco, sedento, é verdade. Entretanto, aqui e ali, apontam brotos novos nos troncos recém-aparados das dracenas e no bambuzal. As mangueiras começam a frutificar, embora devam produzir menos que em outros anos, por falta de chuva. Aliás, se ela não chegar logo, as jabuticabeiras, cobertas de frutinhas ainda esverdeadas, poderão ver perdida a sua generosa produção. Bananas temos, por serem um fruto perene, e muito limão rosado - que alguns conhecem por outro nome, bem esquisito por sinal -, aquele da casca alaranjada, com bastante caldo. Dizem que ajuda no controle da pressão sanguínea, mas eu bebo o suco para alcalinizar o estômago. Meu verdadeiro xodó, um pé de limão siciliano, cuja muda tive o prazer de plantar e da qual cuidei com dedicação e muita paciência, frutificou prodigamente este ano e já vem abotoando todo de novo.

          As plantas mais resistentes começam a exibir suas flores. Há lanterninhas chinesas (Abutilon striatum) por todo lado. A moita de Bela-Emília (Plumbago) – outro xodó – exibe suas florinhas de um azul bem claro, miudinhas mas inebriantes, assim como os jasmineiros. Lembro-me de quando era menina e vivia procurando alguma planta que desse flores azuis. Só muitos anos depois fiquei conhecendo as hortênsias, que florescem no inverno, e recentemente essa lindeza com nome de mulher. Do lado da casa que dá para a mata vários pés de manacá pintalgam o verde de branco, lilás e roxo e enchem o ar de um aroma adocicado As roseiras, podadas em agosto, reverdecem e, em breve, estarão floridas. Já azaleias, helicônias e buganvílias exibem a luxúria de suas floradas. E o chão começa a cobrir-se de vedelias, zebrinas e suzanas-de-olhos-negros (Thunbergia alata).

          Cigarras iniciam sua estridente algazarra, avisando-nos que vai chover, mas como as fileiras de formigas correição ainda não se formaram, deve demorar mais alguns dias para as abençoadas águas batizarem o solo. Sabiás já construíram seu ninho na varanda de casa, as gralhas se fartam com as frutinhas de uma árvore ali chamada de cabotá(?) e um calango-fêmea grávido passeia seu barrigão pelas paredes sem a menor cerimônia.

          Diante de orquestração tão afinada, é possível constatar, a cada ano, que a Terra não precisa de nós e que, independente e apesar da nossa intervenção, por vezes tão predatória, o relógio biológico da Natureza segue marcando o tempo e refazendo a vida.                    

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

A REGRA DO JOGO

          



Em absoluto falarei do novo folhetim da Globo. Aliás, já foi repetido à exaustão que "a vida imita a arte", mas a famosa loura platinada de origem obscura pensa o contrário e vem, com isso, justificando o conteúdo duvidoso que empurra para cima de seus fiéis espectadores. Eu não "sigo" - como se costuma dizer - qualquer novela, mas ouço o comentário de um e outro e vejo, no intervalo do MGTV primeira edição, as insistentes chamadas nos intervalos comerciais. 
Venho falar de outra coisa. Vivemos um tempo de intolerância. Não que ela nunca tenha existido. A história mundial a revela e comprova ao relatar as inúmeras guerras ao longo dos séculos, mostrando como somos belicosos, beligerantes. Evoluímos bastante em muitos aspectos, mas as guerras continuam aí e sua face perversa pode ser constatada quando alguns países, que enriquecem com o extermínio de seus semelhantes fornecendo armamento e incitando o ódio, blindam suas fronteiras para os imigrantes.
Nosso Brasil já acolheu, no passado, italianos que fugiam dos conflitos na Europa e o navio Kasato Maru trouxe para o país famílias de japoneses que vinham trabalhar nos cafezais. Essa gente valorosa se estabeleceu aqui e, trabalhando duro, fizeram desta terra sua segunda pátria, agregando seus hábitos e sua cultura à construção de nossa identidade. Ainda hoje, recebemos imigrantes, agora de outras nacionalidades, como os haitianos e ganeses, que adentram o Brasil atravessando nossas fronteiras permanentemente abertas.
No entanto, no mundo globalizado, a intolerância agora é, também, territorial. E nada sutil. Costumamos afirmar, com todas as letras, que não temos preconceito étnico. Porém, veladamente, um número razoável de cidadãos de pele clara não tolera seus congêneres de tez escura, nos mais variados matizes, os quais, por sua vez, igualmente discriminam os "brancos", como eu. Via de mão dupla. A questão de gênero é outro exemplo. Cidadãos de diferentes orientações sexuais são agredidos e mortos diariamente
neste canto do mundo onde remanesce a hipocrisia do machismo.
Sou espírita. Para mim, o espiritismo é, acima de tudo, ciência e filosofia. Não cabe aqui - e sequer estou interessada - discutir a abrangência destes dois termos. Apenas lembro que, para muitos, ele também é uma religião. Recentemente assisti alguns debates televisivos sobre intolerância religiosa. Ficou claro que os cultos de matriz africana são os mais perseguidos, atingidos pela ignorância do preconceito.
Para completar, no último dia 24, a comissão especial que discute o Estatuto da Família, aprovou, por 17 votos a 5, o principal texto do projeto, que define família como a união entre homem e mulher e sua prole, excluindo todos os outros arranjos. Nova regra do jogo. 
É minha suposição que ambas as formas de intransigência - religiosa e de gênero - têm uma única e mesma origem. Por enquanto, apenas observo e vou costurando minhas constatações. Se vir confirmada minha tese,  o tema poderá ser assunto para outra crônica. Quem sabe?

segunda-feira, 8 de junho de 2015

MENINOS DO BRASIL - Diálogo poético


Meu amigo poeta, o manauara Edweine Loureiro, vive há alguns anos na Terra do Sol Nascente. Por lá, o astro-rei se levanta doze horas mais cedo do que aqui e ele, um semeador incansável na seara da poesia, é um homem solar. Inequivocamente.

Conhecemo-nos, faz algum tempo, no Facebook - sempre ele, a reduzir ou desfazer distâncias!... - e desde então vimos construindo uma amizade poética e um gentil vínculo de afeto. Por isso, sempre nos encontramos por aí, em concursos e publicações literárias, oportunas ocasiões para conhecermos e admirarmos, mutuamente, nossas incursões na literatura e cultivarmos uma parceria bonita no ofício da escrita.

Edweine acaba de lançar um caprichado e-book de trovas e poemetos, onde encontrei um texto que dialoga com um poema meu. Como já fiz outras vezes, com outros amigos escritores, publico aqui, hoje, nossa conversa sobre os meninos do Brasil. 

MENINOS (Angela Fonseca)

Os meninos que andam as ruas
do centro das grandes cidades
têm olhos de vidro e pedra e pó.
Em hordas alucinadas,
e porque a vida vale nada,
brincam com armas de verdade.

Os meninos que andam as ruas
do centro das grandes cidades
não sonham, apenas deliram.
São heróis-bandidos
e seus territórios obscuros
cheiram a sangue, fezes e urina.

As ruas das grandes cidades
por onde andam esses meninos
são becos sem saída. 

MENINO DE RUA (Edweine Loureiro)

Dormindo nos bancos,
faminto e aos prantos,
tem no olhar um desencanto.

E as mãos pequenas,
tão castigadas na vida, 
carregam as marcas
de uma infância esquecida.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

TEMPOS MODERNOS

(imagem da internet: filho de Jaime Gold chega ao velório no Cemitério do Caju)

          Faz alguns anos, um economista chamado Antônio Delfim Netto, que foi nosso embaixador na França e Ministro da Fazenda durante o regime militar, declarou alguma coisa como ”o nome do Brasil deveria ser Belíndia, já que a renda per capita  equipara-se à da Bélgica e o salário mínimo ao da Índia.” Com essas palavras, assentou seu próprio tijolinho à construção do velho conceito sobre má distribuição de renda e abismo social no país.
          Depois disso, ao longo dos anos seguintes, com a chamada “volta da democracia”, o pensamento socialista içou muita gente aos mais variados cargos públicos e adensou o discurso de supostos intelectuais da esquerda, que passaram a discutir os privilégios do que  eles denominam burguesia,  regando a conversa a champanha importado e comendo ovas de esturjão, o que acabou por lhes conferir o epíteto de “esquerda caviar”. Segundo eles, a violência hoje perpetrada contra o cidadão de bem, que trabalha e paga seus impostos, é, de modo simplório e reducionista, justificada pelo fato de os violentadores serem indivíduos injustamente postos à margem da sociedade próspera(?!) em que vivemos, produtos de uma imensa desigualdade social... Então tá.
          Ainda chocada com o assassinato do médico carioca, que relaxava de sua estressante rotina de cardiologista pedalando na orla da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, fico buscando entender o que levou duas crianças a esfaquearem uma pessoa, perfurarem-lhe vários órgãos internos, fazendo com que sangrasse até a morte, por causa de uma bicicleta, um celular e um pouco de dinheiro. Algumas coberturas jornalísticas do ocorrido trouxeram testemunhos de que a vítima, conforme recomenda a Polícia Militar, não reagiu ao assalto. Mesmo assim, recebeu um golpe de faca impiedoso e fatal, como se para aqueles menores assaltantes a “cereja do bolo” fosse a brutalidade, a animalidade, a barbárie.
          Em uma digressão meio louca, eu, que, nestes 67 anos de vida tenho visto muita coisa mudar e venho atentando para a recente e rápida escalada da criminalidade, proponho-me uma teoria que possa, minimamente, explicar – se é que há explicação, porque justificativa não há – para o que aconteceu no Rio de Janeiro. Na minha juventude, os conhecidos “machões” – playboys que disputavam a posição de macho-alfa nas rodas de amigos – ganhavam o título em razão do número de mulheres que conseguiam “pegar” e, em seguida, descartar. Disputa patética, de predadores vazios e infelizes. Hoje, parece-me que o conceito de macheza evoluiu(?!) de modo perverso e radical. Os novos valentões são aqueles que colecionam vítimas da própria bestialidade como seus mais recentes troféus. O que é pior, sem qualquer punição.
          Aí, vem a tal esquerda rançosa defender os que já crescem brutamontes, pervertidos, ou, até, amorais. Para ela, o médico era um legítimo representante da burguesia e os meninos que o “justiçaram”, suas vítimas marginalizadas... Eu me pergunto, então: e aquele senhor que aguardava o ônibus no ponto, após mais um dia de trabalho, e foi assaltado, e depois esfaqueado no ombro e nas costas a propósito de nada, tendo que buscar socorro por sua própria conta e risco? Burguês, ele?
          Outros tempos... Modernos e cruéis demais para o meu gosto.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

UMA HISTÓRIA PARA NÍCOLAS

Este menininho aí embaixo e sua tia, a querida Andreia Donadon Leal, amiga, incentivadora, artista plástica talentosa e escritora de múltiplas letras inspiraram esta historinha singela. O menino lindo tem três aninhos de idade e já é artista, como a tia que tanto ama. Suponho que será também escritor algum dia, porque adora livros e as historias que eles contam. Os genes ele tem. Ambiente favorável e muito estímulo não lhe faltam. Na foto, o desenho de Nícolas, da série morcegos. Voilà.

Noite escura feito breu. Na mata, bichos noturnos saem das tocas. Mamãe Coruja, com seu piado assustador, vai à caça: o ninho, no telhado da casa, está cheio de filhotes famintos. Em voo certeiro, apanha pequenos animais sonolentos e insetos para matar a fome dos pequeninos. Besouros gordos, de asas leves, fazem um barulhão para manterem-se no ar, buscando a luz dentro das casas. Invariavelmente, caem no chão sob o peso do corpo. Morcegos rodopiam, em voos rápidos, silvando para não esbarrarem uns nos outros, procurando frutas para o jantar.
No castelo, todas as luzes apagadas. A princesa Deia dorme seu sono tranquilo, sonhando talvez os sonhos multicoloridos que povoam suas noites sossegadas. Todas as luzes apagadas, menos uma. No quarto do bravo soldado Nícolas, que não tem medo de nada, ele, acordado, vela pelo sono de sua querida princesa.
A luz atrai os besouros, mas a janela está bem fechada. Dali a pouco, morcegos negros começam a rodear a mesma janela, em busca das frutas esquecidas nas fruteiras e na mesa de jantar, abandonadas para o desjejum do dia seguinte. Que bichos feiosos! As asas parecem guarda-chuvas abertos, a cara, de olhos enormes, mas cegos, parece-se com a de um rato e pelos ralos cobrem o corpo desengonçado. 
Nícolas não teme os morcegos, é um soldado de coragem. Mas, preocupa-se com o sono de Deia, perdida em seus sonhos de princesa. 
Então, ele tem uma ideia: pega um pedaço de papel e desenha uma teia bem fechada e prega o desenho na janela. Zás! Um a um, os morcegos caem na tela. E ficam presos para sempre na teia de papel. Nicolas sorri, feliz. A esta hora, os bichos devem estar voando bem longe dali. E os sonhos da princesa estão garantidos. Viva Nícolas, o menino valente!
Angela Fonseca, abril de 2015

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

DAS FALTAS E DAS SOBRAS

(imagem do google)


Já houve fartura por aqui, na terra azul. Animais que nem chegamos a conhecer já coexistiram, harmoniosamente - respeitada, por certo, a cadeia alimentar, que garante o equilíbrio das espécies. Caminharam por entre matas e florestas luxuriantes, nas quais inúmeros espécimes asseguravam a diversidade. Águas fartas e límpidas desciam do firmamento e corriam, sonoras e dançantes, por entre pedras, formando lençóis e corredeiras, onde, tranquilos, viviam bichos aquáticos. E iam dar no mar, criatório e berçário da vida. No ar, livres de gases tóxicos, ruflavam asas de todo tipo, tamanho e cor. Guerra, havia. E perseguição. E ataques. Mas, apenas por liderança ou segurança alimentar. Primorosa união dos instintos de sobrevivência e preservação da espécie.
Enquanto astrofísicos, matemáticos e cosmólogos buscam reproduzir em laboratório o fenômeno do big bang, a grande explosão que supostamente teria dado origem ao cosmos, filosofias e doutrinas de diferentes matizes propõem seus mitos a respeito da criação do universo, que, invariavelmente, apontam para um ser, ou energia superior, que teria dado vida a tudo que existiu e ainda existe, sintetizando sua obra criadora no homem, contemplando-o com consciência e livre-arbítrio. "À imagem e semelhança..." Se assim ocorreu, penso que Deus, hoje, chora... Como um artista cuja obra prima haja perecido, aleatoria ou intencionalmente.
Somos criaturas belicosas e arrogantes, guardadas as honrosas e iluminadas exceções. Entre nossas inumeráveis limitações, destacam-se orgulho, vaidade, luxúria, ambição. Maya. Ilusões de nossos espíritos inquietos, atormentados. Desequilíbrio entre nossas forças complementares de sombra e luz. Desconexão com nossa real essência.
O resultado está aí. Claro, escancarado, para os que têm olhos de ver e ouvidos de ouvir. Produto de nossa intemperança, intolerância e descompaixão, falta-nos o simples, mas essencial. Enquanto nos sobra o supérfluo e descartável. Sofisticamos demais o inútil em detrimento do necessário.
Carentes de alimentação saudável, ar limpo, fontes renováveis de energia e água potável, sem os quais nossa espécie e todas as outras não sobreviverão, sobram-nos fome, ar poluído, energia cara e suja e águas envenenadas e parcas. Além das guerras, das injustiças, da insanidade, da dor e da morte.
Haverá luz para além do caos? Ou estaremos, inexoravelmente, destinados à extinção?

       

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

DOS DONS

(imagem do google)

          Amanheceu sorrindo. Desfrutando, talvez, resquícios de um sonho bom. Alguns minutos mais e o menino abre os olhos, completamente desperto. Não se lembra, ou talvez não saiba verbalizar sobre o quê sonhava. Prevalece o bom humor e ele envereda pelo dia e suas possibilidades.
          Fico pensando sobre os dons. Cada ser absolutamente singular que povoa este pequeno planeta traz o seu ao nascer. Alguns têm a grata oportunidade de desenvolvê-lo sem limitações. Encontram pela frente todas as favorabilidades, materiais, ambientais e – por que não? – espirituais para realizar seu potencial. Outros já não têm esta possibilidade e precisam imprimir esforços para consegui-lo. Uns tantos o conseguem, porque o dom talvez possua uma força irresistível que arrasta vontades e supera disposições em contrário. No entanto, nem tudo é sucesso e o sentimento de incompletude e frustração vira fardo, peso morto, dor. Ao longo do percurso, uns o desenvolvem tardiamente – outras prioridades... Incompreensivelmente, talvez, outros o revelam muito cedo, como se o tivessem trazido já pronto, acabado, sem o quê acrescentar. Talentos natos. Muitos, por afinidade e similaridade entre os dons, às vezes se aproximam, somando e aperfeiçoando, fazendo de suas aptidões um conjunto raro de  legitimidade e competência. Há também os que seguem por uma trilha solitária, nem sempre árdua, mas, por tantas vezes, despida do encanto do pertencimento, da intimidade, da pemuta. Certos dons redesenham o itinerário de uma vida. Outros revolucionam inúmeras vidas. Apontam trajetórias, abrem veredas, geram oportunidades e, até mesmo, ofertam os meios. Existem, ainda, aqueles que revelam outras aptidões nunca antes experimentadas, capazes de virar pessoas de ponta-cabeça, justo quando tudo parecia estabelecido e definitivo.
          Dons sempre podem ser potencializados. Ou perdidos definitivamente,  no canto escuro e sujo da preguiça, do desencanto, da inércia. O que faria uma pessoa desistir de seu condão, de sua varinha mágica capaz de transformar o próprio caminho em um rastro de luz e realização?
          Volto meu pensamento para o menino. Seu dom – quem sabe? - seja caçar nuvens, catar estrelas, sorrir sonhando. E o dom de seu sorriso, para mim, chama-se ESPERANÇA.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

ERIC, O MENINO

(imagem do google)

Recentemente, mais exatamente ao final de 2014, enfrentei um verdadeiro vale de lágrimas junto com meu filho Eric e o sentimento foi de desamparo, desproteção e não-pertencimento. Desnecessário elencar os detalhes desse momento difícil: seria revivê-lo, e não quero fazê-lo quando uma pequena luz parece indicar a estreita porta de saída. No entanto, partilho com vocês um ensaio que enviei para submissão à Revista Jangada, periódico eletrônico do curso de Letras da Universidade Federal de Viçosa e que foi aceito para a mais recente edição, cuja temática proposta contemplou as "Marginalidades". Que sirva de informação, fonte de conhecimento e - quem sabe? - de auxílio para quem enfrenta a mesma realidade. Eis aí

Eric, o menino

 Autoria: Angela Fonseca

“Ninguém é igual a ninguém. Todo ser humano é um estranho ímpar.”
Carlos Drummond de Andrade, Igual-Desigual, in A paixão medida, 1980.
         
          Eric, o menino, desperta pontualmente às 08h30min. Veste-se, com ajuda, e toma seu desjejum, preparado por outra pessoa. Em seguida, esforça-se em arrumar a própria cama, brinca um pouco com LEGO e dirige-se para a área na parte da frente da casa. Toma assento em sua cadeira alta, protegido por um guarda-sol, e, independente das condições climáticas, fica ali, no seu “observatório”, assim denominado por seus pais, durante um tempo considerável, mexendo com os passantes, geralmente gentis e responsivos, e olhando para um cenário quase sempre igual.
          A denominação mais recente para quem apresenta qualquer tipo de deficiência física, intelectual ou mental, é “pessoa com deficiência”, de acordo com a convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, promulgada com status de emenda constitucional em 2008. Aos 36 anos de idade, ele faz parte desta estatística de marginalidade
          Os números vêm crescendo, é verdade, mas tais dados quantitativos no Brasil têm pouco significado diante de uma população que cresce como um todo. De acordo com o relatório do Censo de 2010, a população brasileira soma um total de 190.755.799 indivíduos. Destes, 2.617.025 são pessoas com deficiência intelectual ou mental. Ou seja, 1,4%. Um universo considerado insignificante e pouco representativo num país em que as minorias são consideradas marginais, em especial aquelas que pouco ou nada agregam ao PIB – Produto Interno Bruto.
          Eric, o menino, cumpre, ritualisticamente, mais um dia de sua vida à margem. Hoje ele vai sair com seus amigos mais próximos, talvez os únicos no momento – seus pais -, para ir ao supermercado e dar uma volta de carro. Durante as compras, puxa conversa com as pessoas, sorri, brinca com um ou outro cliente, põe seus produtos preferidos dentro do carrinho e sai mostrando “suas compras” para todos. Geralmente alegre. Beija, com carinho e emoção, as pessoas de cabelos brancos. Lembram-no a avó, cujo falecimento abriu um buraco, difícil de ser preenchido, em seu repertório afetivo. Caminha com certa desenvoltura naquele espaço familiar, ao contrário da dificuldade de locomoção que apresenta na rua. Continua sua conversa na fila e, em geral, é bem sucedido, por ser engraçado e muito sorridente. Carismático.
          No carro, adora a volta longa que o pai dá, provocando-o com a possibilidade de estarem “perdidos” pelo caminho. Dá boas gargalhadas. Tem ótimo senso de direção e, mesmo percorrendo, a cada vez, um local diferente, percebe quando o pai toma o caminho de volta à casa e tenta convencê-lo a prolongar um pouco mais o passeio.
          Possuidor de uma memória prodigiosa, acima da média e intocada pela deficiência, apresenta fala fluente, embora pontuada por temas recorrentes. O pensamento “mágico”, para além do mundo real, denota uma desorganização mental que sugere personalidade esquizóide. Diagnose apresentada em relatório médico.         
          As opções de atividades sociais para pessoas adultas com deficiência mental severa são relativamente escassas nas grandes cidades. Na maioria dos casos, os pais, já aposentados, têm dificuldade de reintegrar-se ao mercado de trabalho, não apenas pelo avançar da idade, mas porque os cuidados com o filho deficiente ocupam-nos quase que integralmente. O Estado não oferece opções para deficientes maiores de 18 anos e os gastos com escolas especiais e clínicas são altos, mesmo para quem paga um plano de saúde. Cuidadores especializados significam um custo muito acima de suas possibilidades.
          O quadro diagnóstico de Eric, o menino, se agrava, a cada ano. Sua visão vem se deteriorando, porque a síndrome que apresenta – homocistinúria – inclui, em seu espectro, uma progressiva luxação do cristalino. Assim, Eric vê a realidade de forma distorcida. Duplamente.
          Sente saudade dos ex-colegas, seus iguais. Vez por outra tem vontade de voltar à escola que frequentava para encontrá-los, o que acontece em dias de festa, quando se lembram de convidá-lo. Ele, aliás, adora festas. E esta é a parte interessante: em certos aspectos, reage como uma pessoa dita “normal”. Deseja namorar, por exemplo, mas sua sexualidade, fisiológica, não está relacionada ao outro. É meramente hormonal e invariavelmente satisfeita de modo solitário.  
          Desde 2004 se dispõe de um livro que contém tudo sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, este, aliás, o título da oportuna obra da Procuradora da República Dra. Eugênia Fávero. Trata dos aspectos jurídicos, aí incluídos os aspectos penais e processuais. A apresentação é didática, sob a forma de perguntas e respostas. A leitura do livro permite confrontar a letra da lei com a realidade da pessoa com deficiência no Brasil: na prática, há um abismo entre os direitos do deficiente e os deveres do Estado. Mais uma vez, esse abismo sugere a má-vontade do poder público em fazer cumprir legislação referente a cidadãos que não geram riqueza. Vejamos o caso da educação, por exemplo. O deficiente mental pode, sim, frequentar escolas públicas e algumas delas até possuem espaço de atendimento quase individualizado para, supostamente, cumprir o protocolo de inclusão. Entretanto, nem todas as pessoas com deficiência são incluídas e as escolas alegam falta de formação especializada dos profissionais, bem como de outros recursos, para atender essa demanda. Restam as escolas privadas que, em razão da especialização, praticam valores mensais nem sempre compatíveis com a disponibilidade financeira da família. Muitas até aceitam alunos bolsistas das instituições público-privadas. Mas isso vem inviabilizando o trabalho, já que tais instituições atrasam pagamentos, mesmo sabendo que os custos de uma escola especializada são mais altos. Como resultado, algumas vêm recusando alunos bolsistas, o que torna a questão ainda mais dramática. 
          A princípio era mais fácil lidar com Eric. Era, de fato, um menino, na estatura e na idade, e seus pais, mais jovens e com melhor disposição. Porém,  sabiam que não haveria milagres. Seria a rotina, o alternar entre alegria e desânimo, entre vitórias e frustrações, desespero e esperança e tudo novamente. Dia após dia. As outras pessoas até se sensibilizam, tentam entender o que é viver com uma  pessoa com déficit mental. Mas, jamais conhecerão, de fato, a dor da impotência diante da falta de perspectiva de uma mudança. Na verdade, o deficiente dependerá dos cuidados de alguém para o resto de seus dias. Mesmo diante da inevitabilidade da morte, pais que não dispõem de condição financeira elevada para deixarem um legado material, a garantir a sustentabilidade dessa pessoa, costumam ter pavor de morrer. Quem cuidará? Como cuidará? Terá afeto e compaixão? Usará o recurso financeiro, amealhado com esforço, para realmente, prover para a pessoa dependente? Perguntas sem resposta. Só angústia e incerteza.
          Eric, o menino, almoça bem, porque hoje veio à mesa a comida de que gosta muito, um macarrão instantâneo “rico”, como costuma dizer: sem o condimento do pacotinho, mas com muito tempero caseiro, verduras e alguma carne. Para beber, refrigerante de cola, a “pretinha”, que ele adora. Depois, sorvete de chocolate. Repete, sorrindo: “É festa, é festa!” Quem sabe o desejo de que algo de novo aconteça e quebre a rotina, acrescente  novidade aos dias sempre iguais... À tarde, volta ao seu observatório, ou assiste um programa na TV, ou ainda um DVD. Anoitece, ele lancha, toma seus remédios, um banho e vai dormir. E é só. Pergunto: que será de Eric, o meu menino?O que terá a vida, ainda, a lhe oferecer?