sexta-feira, 6 de novembro de 2015

MARIANA NO MAPA DO BRASIL

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(imagem do Google)

A cidade de Mariana, em Minas Gerais, é uma forte referência para mim. Não apenas por ter sido a primeira capital do estado onde nasci; tampouco por fazer parte do patrimônio barroco mineiro. Tenho, é claro, profunda admiração e um respeito quase devocional por tudo que a cidade representa para história do Brasil. Mariana é, ainda, conhecida pela forte religiosidade, tendo abrigado importantes conventos católicos e mantido as velhas tradições na celebração de datas significativas para a Igreja.
Além de tudo isso, Mariana é terra natal de artistas e escritores que emprestaram seu talento para o enriquecimento da cultura nacional. E é por essa razão que a cidade me conquistou e ocupa hoje um cantinho especial no meu coração. Estou ligada ao Movimento Aldravista, que teve início ali no ano 2000, refletindo a inquietação de escritores, poetas e artistas plásticos que buscavam uma nova estética na literatura e nas artes em geral. Sou membro de duas agremiações literárias na cidade e tenho amigos muito queridos que vivem lá.
A partir da tragédia ocorrida em distritos pertencentes ao município neste início de novembro, a qual vai revelando a face perversa do suposto desenvolvimento econômico, o estado de Minas Gerais vem ocupando espaço na mídia televisiva aberta, que, em geral, privilegia os fatos acontecidos no eixo Rio-São Paulo, como se o resto do país, de dimensões continentais, simplesmente não existisse ou tivessem qualquer importância. É, a um tempo, curioso e lamentável que apenas o ocorrer de uma catástrofe venha a nos colocar sob os holofotes dos noticiários. Parece que o brasileiro tem um gosto especial por acontecimentos funestos, o que se reflete nas estatísticas de audiência.  
Ainda impactados e perplexos, políticos, especialistas e imprensa especulam sobre o que pode ter levado as barragens onde se armazenavam rejeitos de mineração a se romper e liberar uma lama letal, que saiu soterrando tudo que havia pela frente e avança ainda, incontrolada, levando desespero e destruição por onde passa.
Como soe acontecer - um filme de terror que nos habituamos a ver, repetidamente -, a empresa responsável busca, insistentemente, justificativas para se eximir da responsabilidade, alegando que a contenção foi feita “rigorosamente” de acordo com normas técnicas, como se vistorias e manutenções regulares não fizessem parte da normatização. Até a hipótese de abalos sísmicos foi levantada, embora a priori não houvesse registros de tremores no local. Vale lembrar que se esse tipo de abalo é recorrente ali, as normas de construção dos diques deveriam, a rigor, levar esta contingência em consideração.
Em meio às perdas, ao sofrimento, à perplexidade e à incapacidade imediata de determinar a verdadeira causa da tragédia e avaliar todas as consequências dela decorrentes, alguns profetizam que levará de cinco a dez anos para que a região se recupere. Esta é a visão macro. Por trás dela, há muita dor individual que não será expurgada facilmente; há muita vida que terá de recomeçar do nada; há um ônus ambiental que dificilmente será recomposto. Na outra ponta, a solidariedade anônima; a fé daqueles que, a despeito dos prejuízos materiais, conseguem agradecer pelas vidas poupadas; a resistência aprendida em face da adversidade.
Há antecedentes suficientes, outros desastres semelhantes, mais do mesmo. Fica a pergunta: até quando?  

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