(imagem do Google)
A cidade de Mariana, em Minas
Gerais, é uma forte referência para mim. Não apenas por ter sido a primeira
capital do estado onde nasci; tampouco por fazer parte do patrimônio barroco
mineiro. Tenho, é claro, profunda admiração e um respeito quase devocional por
tudo que a cidade representa para história do Brasil. Mariana é, ainda,
conhecida pela forte religiosidade, tendo abrigado importantes conventos
católicos e mantido as velhas tradições na celebração de datas significativas
para a Igreja.
Além de tudo isso, Mariana é
terra natal de artistas e escritores que emprestaram seu talento para o
enriquecimento da cultura nacional. E é por essa razão que a cidade me
conquistou e ocupa hoje um cantinho especial no meu coração. Estou ligada ao
Movimento Aldravista, que teve início ali no ano 2000, refletindo a inquietação
de escritores, poetas e artistas plásticos que buscavam uma nova estética na
literatura e nas artes em geral. Sou membro de duas agremiações literárias na
cidade e tenho amigos muito queridos que vivem lá.
A partir da tragédia ocorrida em
distritos pertencentes ao município neste início de novembro, a qual vai revelando
a face perversa do suposto desenvolvimento econômico, o estado de Minas Gerais
vem ocupando espaço na mídia televisiva aberta, que, em geral, privilegia os
fatos acontecidos no eixo Rio-São Paulo, como se o resto do país, de
dimensões continentais, simplesmente não existisse ou tivessem qualquer
importância. É, a um tempo, curioso e lamentável que apenas o ocorrer de uma catástrofe
venha a nos colocar sob os holofotes dos noticiários. Parece que o brasileiro
tem um gosto especial por acontecimentos funestos, o que se reflete nas
estatísticas de audiência.
Ainda impactados e perplexos,
políticos, especialistas e imprensa especulam sobre o que pode ter levado as
barragens onde se armazenavam rejeitos de mineração a se romper e liberar uma lama
letal, que saiu soterrando tudo que havia pela frente e avança ainda,
incontrolada, levando desespero e destruição por onde passa.
Como soe acontecer - um filme de
terror que nos habituamos a ver, repetidamente -, a empresa responsável busca,
insistentemente, justificativas para se eximir da responsabilidade, alegando
que a contenção foi feita “rigorosamente” de acordo com normas técnicas, como
se vistorias e manutenções regulares não fizessem parte da normatização. Até a hipótese de
abalos sísmicos foi levantada, embora a
priori não houvesse registros de tremores no local. Vale lembrar que se esse tipo de abalo é recorrente ali, as normas de construção dos diques deveriam, a rigor, levar esta
contingência em consideração.
Em meio às perdas, ao sofrimento,
à perplexidade e à incapacidade imediata de determinar a verdadeira causa da
tragédia e avaliar todas as consequências dela decorrentes, alguns profetizam
que levará de cinco a dez anos para que a região se recupere. Esta é a visão
macro. Por trás dela, há muita dor individual que não será expurgada
facilmente; há muita vida que terá de recomeçar do nada; há um ônus ambiental
que dificilmente será recomposto. Na outra ponta, a solidariedade anônima; a fé
daqueles que, a despeito dos prejuízos materiais, conseguem agradecer pelas
vidas poupadas; a resistência aprendida em face da adversidade.
Há antecedentes suficientes, outros desastres semelhantes, mais
do mesmo. Fica a pergunta: até quando?
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