segunda-feira, 25 de agosto de 2014

SOMBRAS

(imagem do google)
“Santo  é o pecador que não desistiu.” (Paramahansa Yogananda)

Gosto das minhas sombras. Desse canto secreto, obscuro que todos possuímos, mas não gostamos de mostrar. Eu poderia fazer o questionamento nivelador: ”Tenho sombras, sim! Mas quem não as tem?”  No entanto, não são as sombras alheias que me interessam. Que cada um lide com as suas como quiser. Ocupo-me das minhas.
Elas são, sem dúvida, o meu contraponto, meu fiel da balança. Reconhecê-las resgata o meu ponto de equilíbrio. São minhas sombras que me puxam para o chão de incertezas que é a vida. Libertam-me do rigor impiedoso do perfeccionismo, salvam-me de qualquer orgulho ostensivo, das vãs vaidades. Dão-me o empurrão necessário para o território da dúvida, para longe das certezas inúteis. Relativizam-nas.

Sombras são como os velhos negativos de fotos: delineiam, mas não detalham; sugerem, porém não revelam. Causam-me, a um tempo, o espanto e a admiração diante do que sou. Fazem parte da substância da minha alma. Tiram, um a um, os véus da minha própria cegueira, abrindo caminho e espaço para minha luz verdadeira.  

sábado, 23 de agosto de 2014

FILHO



(imagem do google)
Dialogamos, os dois,
em dialeto muito particular.
O que você represa,
por não conseguir exprimir,
eu, tradutora,
vou decifrando na luz de seu olhar.
Seus olhos, filho meu,
escoam tanto afeto,
que parece haver um rio
de águas muito puras
correndo dentro desse corpo frágil.
Nele navegamos os dois,
enlaçados, conectados desde muitas vidas,
buscando estuários
para essa afeição que ultrapassa nossa humanidade.
Meu amigo, meu menino-homem, meu avatar,
amar você é renascer, sempre.

ALDRAVIANDO...

Aldravias são poemas sintéticos, de até seis versos univocabulares, que privilegiam o uso da metonímia em lugar da metáfora exatamente por serem poemas curtos e, também, no intuito de provocar e reconquistar o leitor de poesia. Sou poeta aldravianista, membro efetivo da SBPA - Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas, com sede na cidade histórica de Mariana, MG. Pretendo postar aqui minhas aldravias, outros textos relacionados, meus poemas e minha prosa. Estou criando meu próprio sítio de publicação, uma vez que os espaços democráticos estão, a cada dia, mais escassos e os grandes conglomerados editoriais não se interessam pelos que, como eu, não são o que eles consideram "notáveis". Sou uma poeta de alma e coração e a internet me proporciona a oportunidade de partilhar com as pessoas a minha escritura. Quem quiser mandar textos para mim fique, também, à vontade. Este é um blog de Literatura, com letra maiúscula. Degustem e participem. Vamos escrever, e ler, e escrever de novo, e tudo outra vez.

marinhas
águas
diamantinos
cristais
minas
gerais

bateias
em
leitos
d’ouro
minas
confiscada

tramas
soturnas
e
poesia
minas
inconfidente
veios
ferro
sangrando
montanhas
minas
drummondiana

véus-de-noiva
serra
abaixo
minas
líquida

sabão
pedra
dura
minas
de
profetas

UMA ANÁLISE MUITO PARTICULAR SOBRE FERNANDO PESSOA(S)


Creditar a exuberância desesperada de Fernando Pessoa a entidades obsessoras, como querem alguns seguidores do Espiritismo, a mim me parece um profundo equívoco. É pretender deslustrar uma obra densa e peja de brilho próprio. Os heterônimos foram uma solução, digamos, terapêutica para uma psique fendida pela dor da lucidez. Uma tentativa de lidar com a loucura mesma de suas teses e antíteses, da solidão e da culpa, das carências e do peso da rejeição, dos pruridos da homossexualidade em um contexto social conservador.

Nem mesmo sua busca pela transcendência, dentro de sociedades esotéricas e/ou guetos de ocultismo, conseguiu trazer-lhe algum apaziguamento. Deram em tédio e ceticismo: argúcia e inteligência nunca lhe permitiram soluções fáceis, confortadoras, as bengalas psíquicas. Tudo em vão diante de uma alma atormentada por suas tão humanas controvérsias.

(Angela Cristina Fonseca, junho/2014)