sexta-feira, 11 de novembro de 2016

APOCALIPSES CONTEMPORÂNEOS


I 
Há alguns meses enviei um poema para concurso literário de uma academia de letras da qual sou membro. Fala de velhos retratos e suas molduras, algo tão obsoleto que a galera conhece apenas de vista. Ou não. Com tanta tecnologia disponível, as imagens vão ficando cada vez mais perfeitas, tal a quantidade de recursos que retocam, desfocam, focam, mudam o cenário e até distorcem o objeto fotografado, entre outras maravilhas. Entendo pouquíssimo de tais engenhocas. Sou analfabyte assumida, mas não ao ponto de de não reconhecer como, em inúmeras áreas do conhecimento, tal progresso é útil e descomplica a vida de muita gente.
II
Mudando um pouco de assunto, liga-se a TV ou lê-se os jornais virtuais e o que se vê são absolutamente as mesmas notícias. Apenas os vieses mudam, de acordo com a linha editorial do veículo.
Esta semana, dois assuntos em especial dominaram as manchetes. Em primeiríssimo lugar, a eleição presidencial nos Estados Unidos, que eles carinhosamente chamam de América. Acho curioso como tal pleito possa interessar tanto os brazucas. Talvez aqueles que lá vivem clandestinamente tenham alguma razão para se preocuparem. Sentem-se acuados, depois do festival de baixaria e mis en scène contra alienígenas, que é como eles nos denominam: US Alliens.
III
Enquanto isso, na terra brasilis , alunos ensandecidos e doutrinados por alguns de seus mestres, ocupam escolas, depredam patrimônio público e complicam a vida de quem passou o ano preparando-se para para o esperado, idolatrado, salve, salve ENEM! Curiosamente, terminado o exame, os revoltosos contra um documento do qual sequer têm conhecimento - por favor, não estou aqui fazendo a apologia da antes PC 241, hoje, no Senado Federal, rebatizada de PEC 55 - desocuparam os prédios. 
IV
Abro parênteses. Quando eu era uma jovem estudante, a hoje odiada reforma do ensino médio, era prática comum. Era  uma beleza: todos escrevíamos muito bem, porque as questões eram abertas e escolhíamos as disciplinas que desejávamos cursar de acordo com a área acadêmica eleita por nós. Os vestibulares, inclusive para as Universidade Federais, eram diferenciados, de acordo com a preferência de cada um: ciências biológicas, exatas, humanas e sociais aplicadas. Aí, veio a reforma do ensino de 1988... Fecho parênteses.
V
Pois enquanto a mídia explorava à exaustão as eleições americanas, o Governador Pezão, no Rio de Janeiro, preparava um pacote de maldades para os cidadãos do seu quintal.
VI 
Aí... chegou a quinta-feira e a seleção brasileira de futebol foi enfrentar os argentinos e um bocado de gente encheu o Mineirão, pagando valores entre R$219 e R$ 400 reais, saindo do estádio com a alma lavada: vingaram-se do vexame dos 7 x 1 contra (ou a favor?) da Alemanha na Copa de 2014.
VII 
Foi esta palavra, VINGANÇA, que me trouxe até aqui. Afirmam os especialistas em Bíblia e Escrituras Sagradas que Joãozinho, o irmão mais amado de Jesus, foi quem escreveu sobre as pragas do Apocalipse, em estado de catarse mediúnica. Obviamente, àquela época, ele não teria como profetizar uma praga contemporânea chamada selfie, palavra derivada de self, que significa EGO. Pois então: nesses tempos de total egolatria, um turista brasileiro, querendo fazer uma selfie à frente de uma imagem de São Miguel Arcanjo, com trezentos anos de idade, derrubou-a, quebrando-lhe as asas. A imagem fazia parte do acervo do Museu Nacional de Arte Antiga de Lisboa há 100 anos.
Estava eu lendo a matéria no facebook e, passando os olhos pelos comentários, deparei com a seguinte frase: "Bem feito! Foi uma boa vingança contra todo o nosso ouro que os portugueses levaram do Brasil..."
Fiquei perplexa, não comentei, nada perguntei sobre esta demonstração de estupidez. Assim sendo não recebi respostas. Termino por aqui. Sem palavras.




Um comentário:

  1. Pois... um retorno em grande estilo! A topicalização funciona super bem e averve borbulha esfuziante! Evoé! Bem haja!

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