(imagem do google)
Faz um tempinho que venho me propondo escrever sobre o tema, porém sempre adiando. Até que, na última segunda-feira, 26/02/2018, dando uma zapeada na TV, vi a chamada para um debate que seria reproduzido em parte pelo canal Cultura. Os debatedores, ninguém menos que Mário Sérgio Cortella, Leandro Karnal e Luiz Felipe Pondé. Tratava-se do resumo de um evento que ocorrera publicamente, no qual se discutiu sobre Ética e Democracia. A certa altura, o primeiro fez uma provocação, perguntando o que os outros dois pensavam de "um palavrão contemporâneo, o 'politicamente correto'". As respostas e colocações foram bem interessantes e o que eu mesma penso a respeito tem afinidade com o que foi dito.
Afinal, o que é mesmo "politicamente correto"? Segundo o dicionário eletrônico Antônio Houaiss, uma das acepções para "política" é "série de medidas para a obtenção de um fim", mas pode também significar "astúcia, maquiavelismo no processo de obtenção de alguma coisa" em sentido figurado. Já para a palavra "correto" temos "que se corrigiu" ou "que teve suas falhas emendadas, corrigidas; emendado". Fica claro que o tal "palavrão" do professor doutor Cortella pode servir a dois senhores: tanto ter a função de corrigir falhas cometidas durante um certo tempo, bem como funcionar de modo maquiavélico, a fim de manipular opiniões.
Pois bem. No meu modesto pensar e de acordo com minha observação, tenho percebido que se vem usando a expressão de maneira exagerada. Explico. Meu filho hoje é "pessoa com deficiência intelectual", mas já foi "pessoa portadora de deficiência mental" ou "pessoa portadora de necessidades especiais". E eu me pergunto: que diferença fazem tais mudanças para designar pessoas que nasceram com ou adquiriram dificuldades variadas que as tornam diferentes das demais? Melhor seria que, em vez de preocupar-se com a denominação, o Estado e a sociedade como um todo percebessem o diferente com sensibilidade e pudessem proporcionar a ele não vantagens, mas condições de viver dignamente, com oportunidades iguais aos considerados "normais", dentro dos padrões estatísticos. É claro que não caberia mais chamar-se aquelas pessoas de retardadas, ou mongoloides, como costumava ocorrer, mas, infelizmente, o respeito verdadeiro ainda não acontece, nem dentro do Estado nem da sociedade. As ações ainda passam longe das tais "necessidades especiais" e o bullying continua a acontecer, meio às escondidas, como nas próprias famílias, ou até despudoradamente, por maldade genuína.
Observo que hoje quase tudo está voltado para a suposta "justiça" a ser feita àqueles que, durante longa data, foram tratados como inferiores, menos bons, menos corretos, com menos oportunidades e vai por aí. No entanto, penso que estamos chegando às raias do exagero. As minorias já não são mais minorias e injustiças vêm sendo perpetradas sobre quem não tem culpa de nada. O mais recente fato foi durante o carnaval, quando indivíduos que se fantasiaram de índios, se viram criticados porque "vestir-se de índio como fantasia para curtir a folia" seria um desrespeito aos primeiros brasileiros. Esquecem-se, no entanto, das verdadeiras barbaridades que são cometidas contra nossos conterrâneos diariamente, pilhando-lhes as terras, o ethos cultural, a dignidade. Pura hipocrisia.
O resultado disso, ao meu olhar, tem se tornado muito mais um desserviço do que um serviço prestado ao diferente. Tenho visto crescer a intolerância nas questões raciais, de gênero, e muitas outras. Ou seja, em vez de se fazer justiça, fomenta-se o ódio num mundo já saturado de intransigência, de repressão e de fanatismo. Onde chegaremos não sei, mas trago a provocação para reflexão dos que se sentem travados, assim como eu. A propósito, seria tal reflexão politicamente correta?