quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

POLITICAMENTE CORRETO

(imagem do google)

Faz um tempinho que venho me propondo escrever sobre o tema, porém sempre adiando. Até que, na última segunda-feira, 26/02/2018, dando uma zapeada na TV, vi a chamada para um debate que seria reproduzido em parte pelo canal Cultura. Os debatedores, ninguém menos que Mário Sérgio Cortella, Leandro Karnal e Luiz Felipe Pondé. Tratava-se do resumo de um evento que ocorrera publicamente, no qual se discutiu sobre Ética e Democracia. A certa altura, o primeiro fez uma provocação, perguntando o que os outros dois pensavam de "um palavrão contemporâneo, o 'politicamente correto'". As respostas e colocações foram bem interessantes e o que eu mesma penso a respeito tem afinidade com o que foi dito.
Afinal, o que é mesmo "politicamente correto"? Segundo o dicionário eletrônico Antônio Houaiss, uma das acepções para "política" é "série de medidas para a obtenção de um fim", mas pode também significar "astúcia, maquiavelismo no processo de obtenção de alguma coisa" em sentido figurado. Já para a palavra "correto" temos "que se corrigiu" ou "que teve suas falhas emendadas, corrigidas; emendado". Fica claro que o tal "palavrão" do professor doutor Cortella pode servir a dois senhores: tanto ter a função de corrigir falhas cometidas durante um certo tempo, bem como funcionar de modo maquiavélico, a fim de manipular opiniões.
Pois bem. No meu modesto pensar e de acordo com minha observação, tenho percebido que se vem usando a expressão de maneira exagerada. Explico. Meu filho hoje é "pessoa com deficiência intelectual", mas já foi "pessoa portadora de deficiência mental" ou "pessoa portadora de necessidades especiais". E eu me pergunto: que diferença fazem tais mudanças para designar pessoas que nasceram com ou adquiriram dificuldades variadas que as tornam diferentes das demais? Melhor seria que, em vez de preocupar-se com a denominação, o Estado e a sociedade como um todo percebessem o diferente com sensibilidade e pudessem proporcionar a ele não vantagens, mas condições de viver dignamente, com oportunidades iguais aos considerados "normais", dentro dos padrões estatísticos. É claro que não caberia mais chamar-se  aquelas pessoas de retardadas, ou mongoloides, como costumava ocorrer, mas, infelizmente, o respeito verdadeiro ainda não acontece, nem dentro do Estado nem da sociedade. As ações ainda passam longe das tais "necessidades especiais" e o bullying continua a acontecer, meio às escondidas, como nas próprias famílias, ou até despudoradamente, por maldade genuína.
Observo que hoje quase tudo está voltado para a suposta "justiça" a ser feita àqueles que, durante longa data, foram tratados como inferiores, menos bons, menos corretos, com menos oportunidades e vai por aí. No entanto, penso que estamos chegando às raias do exagero. As minorias já não são mais minorias e injustiças vêm sendo perpetradas sobre quem não tem culpa de nada. O mais recente fato foi durante o carnaval, quando indivíduos que se fantasiaram de índios, se viram criticados porque "vestir-se de índio como fantasia para curtir a folia" seria um desrespeito aos primeiros brasileiros. Esquecem-se, no entanto, das verdadeiras barbaridades que são cometidas contra nossos conterrâneos diariamente, pilhando-lhes as terras, o ethos cultural, a dignidade. Pura hipocrisia.
O resultado disso, ao meu olhar, tem se tornado muito mais um desserviço do que um serviço prestado ao diferente. Tenho visto crescer a intolerância nas questões raciais, de gênero, e muitas outras. Ou seja, em vez de se fazer justiça, fomenta-se o ódio num mundo já saturado de intransigência, de repressão e de fanatismo. Onde chegaremos não sei, mas trago a provocação para reflexão dos que se sentem travados, assim como eu.  A propósito, seria tal reflexão politicamente correta? 

sábado, 10 de fevereiro de 2018

SER, OU NÃO SER: A ESCOLHA É SUA

(imagem do google)

Meu amigo é um chato confesso e assumido. Nunca disfarçou sua chatice. Chega a fazer publicações esporádicas sobre o assunto. E aliás, chatices há de vários tipos e para todos os gostos. O que é chato para mim, não necessariamente será chato para você.
Como todo mundo, tenho as minhas e quem me conhece bem sabe quais são. Vou falar, pois, do que acho chato. Tenho horror a música sertaneja, pagode, funk e afins. E aquele vizinho que gosta e resolve ouvir na maior altura, achando que também vou gostar, é um chato profissional. Detesto gente que conversa comigo colocando a mão em mim o tempo todo. Não sou exatamente refratária ao toque, mas aquela mãozinha no meu ombro e nos meus braços a cada frase, como que para chamar atenção, é de uma chatice sem fim. Pessoas que falam sem parar e não dão a deixa para que você entre com sua opinião, além de chatas são inconvenientes. Certos serviços domésticos são chatos de executar e me dão ataque de preguiça. Aquele chato que me pede várias coisas ao mesmo tempo, sem me dar uma folga para respirar, é, mais que tudo, um folgado: provavelmente não está fazendo sua parte das tarefas. E vai por aí. Atenção, porque estou falando apenas das pequenas chatices do dia a dia. 
Agora vem o pior: a grande chatice! E para descrevê-la recorrerei a um adjetivo antigo e praticamente em desuso no nosso idioma, ao menos no Brasil : UNTUOSO/A. Segundo o Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa, duas acepções definem bem o que me aborrece. 4. Derivação - sentido figurado:  que causa agradável sensação de brandura; macio, meigo, melífluo, suave;  5. Derivação - sentido figurado. Uso: pejorativo: cheio de unção ('maneira insinuante'); bajulador. Esse tipo de pessoa, na minha opinião, é detestável. Não apenas por ser chata, mas, principalmente, por ser falsa.
Convivemos nas redes sociais e há um excesso de preocupação com a imagem; por esse motivo a web anda cheia de sujeitos untuosos. E é muito fácil perceber a diferença entre GENTILEZA e UNTUOSIDADE. A pessoa gentil trata os amigos, sejam reais ou virtuais, com delicadeza e simpatia, mas não é, nem de longe, um bajulador. Já o untuoso - ou untuosa - é aquele indivíduo cheio de rapapés - outra palavra pouco comum, mas essa vou deixar para vocês procurarem o significado ou inferirem pelo contexto. Agradece demais, elogia demais, cumprimenta demais e, o que é ainda pior, se autopromove através desses estratagemas, chamando atenção pelo seu modo melífluo de tratar todo mundo. Mas é daqueles que, no dia em que lhe pisam o calo, se esquecem da compostura e sabem ser desagradáveis, arrogantes e... chatos ao último grau.   
Tomo muito cuidado com esse tipo: evito falar de minha vida pessoal e estender muito o papo. Trato bem e é só. Nessas horas, prefiro o meu amigo. A propósito, talvez seja também pelo fato de ele ser assumidamente chato que gosto muito do gajo. Não é falso e fala sobre tudo com a maior sinceridade. Prefiro um comentário sincero, ainda que incômodo, do que falsidade gratuita só para angariar simpatia. Num tempo de desconfiança, aparência e hipocrisia, melhor não vacilar.