quarta-feira, 5 de novembro de 2014

2014: DOIS MESES, AINDA...

(imagem do google)
         2014. Ano que vem confirmar uma palavra de uso corrente: atípico.
        Começou com pouca chuva ou excesso dela, dependendo da região. As safras de milho e feijão de pequenos produtores perderam-se, irremediavelmente. Tenho conhecimento disso porque meu marido e eu, que plantamos apenas para consumo próprio, colhemos quantidades ínfimas, que mal chegaram a nos abastecer por dois únicos meses. Dinheiro jogado fora com insumos, ainda que mínimos.
          A seguir, o país transformou-se em um canteiro de obras, muitas delas mal feitas ou inacabadas, com vistas à chamada, por excesso de ufanismo e marketing, de “Copa do Brasil”. Se, de um lado, via-se a euforia de quem esperava faturar com o evento, de outro ficou evidente a insatisfação de extrato significativo da população com os gastos astronômicos, superfaturados, para sediar o mundial e os escândalos políticos, ocorrendo paralelamente no mais alto escalão da administração pública, que resultaram em manifestos de rua e, para variar, muita quebradeira. Feita por gente supostamente infiltrada, para desqualificar o protesto. Sabe-se lá!... Resultados pífios para tanta expectativa: o time brasileiro, completamente perdido e apático em campo, sofreu derrotas fragorosas, enquanto a presidente era vaiada em suas aparições nos estádios. Mais tarde, uma das obras tocada às pressas, com erros de cálculo e execução, ruiu em Belo Horizonte, uma das cidades-sede, deixando um saldo lamentável: duas mortes, inúmeros feridos, transtornos vários para residentes do entorno e prejuízo generalizado para todos. Além do velho “jogo-de-empurra” para apurar responsabilidades.
          Nem bem saímos desse conturbado cenário, começou a campanha para uma grande eleição, com cinco modalidades de cargos públicos à disposição de milhares de candidatos. Logo de início, um lamentável acidente aéreo, de causas ainda obscuras, levou a óbito um candidato com forte perspectiva de tornar-se presidente do Brasil. Sua plataforma era mudar o país, após o forte desgaste da atual administração, acusada de envolvimento com desvio de quantias extraordinárias de dinheiro da nossa maior estatal, fato que a derrubou perigosamente no ranking das grandes empresas mundiais, espantando investidores estrangeiros. Após a morte de tal candidato, acirraram-se as discussões, ao tempo em que a campanha seguia, marcada por mentiras e golpes rasteiros, que se intensificaram com a ida inesperada para o segundo turno da chamada candidatura de oposição, contra a candidata da situação reivindicando um novo mandato. A palavra que, de fato, marcou as últimas três semanas de propaganda e debates foi “mudança”, nas trocas de ideias entre pessoas. E que acabou não ocorrendo, quando, em disputa apertada, voto a voto, os brasileiros acabaram por sufragar o continuísmo, o “mais do mesmo”, cada um movido menos em torno de um projeto de país e mais por seus próprios interesses, embora se ocultassem por trás de um discurso fake de que o fizeram “pelo bem do Brasil, dos pobres e dos oprimidos”. No qual me permito não acreditar.
          Após a reeleição, difícil, veio a público a Presidente da República afirmando, entre outras coisas, que “venceu o amor”. Não foi o que vimos. O que se constatou foi muito ódio, o libelo entre um e outro lado, a radicalização a tal ponto de se ressuscitar um velho discurso separatista, há muito guardado no fundo de algum baú da história. De quem a culpa? A grande mídia, para variar, não se manifestou: usou a velha técnica da avestruz, para nada ver e não se envolver. No entanto, nas redes sociais, território ainda razoavelmente democrático, indícios, e até evidências, apontaram para o partido do governo federal e seus prosélitos, que tanto incitaram o rancor entre classes sociais, etnias e gêneros. Para além disso, testemunhamos o término, doloroso e permeado de ofensas, de muitas relações interpessoais.
          E agora? A questão do abastecimento de água persiste e se agrava de modo aterrador. Na política, é banido um decreto presidencial que tiraria do parlamento o poder constitucional de voto e veto e regularia o uso dos meios de comunicação de massa, em favor de uma ditadura radical de esquerda; fortalece-se a oposição, a partir do resultado das urnas;  o povo vai às ruas, de novo; pipocam pedidos de recontagem de votos, sob a alegação de fraude; e recrudesce o clamor por impeachment da presidente eleita e intervenção das Forças Armadas. Boataria de todos os lados garante a discussão sobre a legitimidade de tais reivindicações, se são reais, ou apenas infiltradas para desqualificar  e enfraquecer as manifestações. E o ânimo dos cidadãos não arrefece, sinalizando uma vontade forte de tomar as rédeas nas próprias mãos.
          E eu pergunto: o quê mais virá neste ano de 2014, que ainda não acabou?