(imagem da internet: filho de Jaime Gold chega ao velório no Cemitério do Caju)
Faz alguns
anos, um economista chamado Antônio Delfim Netto, que foi nosso embaixador na
França e Ministro da Fazenda durante o regime militar, declarou alguma coisa
como ”o nome do Brasil deveria ser Belíndia, já que a renda per capita equipara-se à da Bélgica e o salário mínimo ao
da Índia.” Com essas palavras, assentou seu próprio tijolinho à construção do velho
conceito sobre má distribuição de renda e abismo social no país.
Depois
disso, ao longo dos anos seguintes, com a chamada “volta da democracia”, o pensamento socialista içou muita gente aos mais variados cargos públicos e adensou o
discurso de supostos intelectuais da esquerda, que passaram a discutir os
privilégios do que eles denominam burguesia, regando a conversa a champanha importado e
comendo ovas de esturjão, o que acabou por lhes conferir o epíteto de “esquerda
caviar”. Segundo eles, a violência hoje
perpetrada contra o cidadão de bem, que trabalha e paga seus impostos, é, de modo
simplório e reducionista, justificada pelo fato de os violentadores serem indivíduos
injustamente postos à margem da sociedade próspera(?!) em que vivemos, produtos
de uma imensa desigualdade social... Então tá.
Ainda
chocada com o assassinato do médico carioca, que relaxava de sua estressante
rotina de cardiologista pedalando na orla da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio
de Janeiro, fico buscando entender o que levou duas crianças a esfaquearem uma
pessoa, perfurarem-lhe vários órgãos internos, fazendo com que sangrasse até a
morte, por causa de uma bicicleta, um celular e um pouco de dinheiro. Algumas
coberturas jornalísticas do ocorrido trouxeram testemunhos de que a vítima, conforme
recomenda a Polícia Militar, não reagiu ao assalto. Mesmo assim, recebeu um
golpe de faca impiedoso e fatal, como se para aqueles menores assaltantes a “cereja do bolo”
fosse a brutalidade, a animalidade, a barbárie.
Em uma
digressão meio louca, eu, que, nestes 67 anos de vida tenho visto muita coisa mudar
e venho atentando para a recente e rápida
escalada da criminalidade, proponho-me uma teoria que possa, minimamente,
explicar – se é que há explicação, porque justificativa não há – para o que
aconteceu no Rio de Janeiro. Na minha juventude, os conhecidos “machões” – playboys que disputavam a posição de
macho-alfa nas rodas de amigos – ganhavam o título em razão do número de
mulheres que conseguiam “pegar” e, em seguida, descartar. Disputa patética, de predadores vazios e infelizes. Hoje, parece-me que o conceito de macheza
evoluiu(?!) de modo perverso e radical. Os novos valentões são aqueles que
colecionam vítimas da própria bestialidade como seus mais recentes troféus. O que é pior, sem qualquer punição.
Aí, vem a tal esquerda rançosa defender os que já crescem brutamontes, pervertidos, ou, até,
amorais. Para ela, o médico era um legítimo representante da burguesia e os
meninos que o “justiçaram”, suas vítimas marginalizadas... Eu me pergunto, então:
e aquele senhor que aguardava o ônibus no ponto, após mais um dia de trabalho,
e foi assaltado, e depois esfaqueado no ombro e nas costas a propósito de nada, tendo que
buscar socorro por sua própria conta e risco? Burguês, ele?
Outros tempos... Modernos e cruéis demais para o meu gosto.
Outros tempos... Modernos e cruéis demais para o meu gosto.